frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

quarta-feira, 25 de julho de 2007

você tem medo de se assumir? imagine elas!

Lésbicas árabes, israelenses e palestinas saem do armário. Alguém pode imaginar o que é ser uma lésbica no Oriente Médio?

Não é só notícia ruim que ouvimos a respeito do Oriente Médio. Em meio a bombardeios e conflitos sociais, onde a mulher é aprisionada apenas ao papel de filha ou mãe, eis que surge uma esperança para as lésbicas que residem neste território graças à ousada luta multilateral de duas mulheres: Rauda Morcos e Samira. Corajosamente ambas criaram a primeira associação para lésbicas da região, a "Aswat", que significa "vozes" em árabe, sob o slogan que deixa claro a que veio "Somos Palestinas, Somos Mulheres e Somos Lésbicas". A sede está localizada em Haifa, ao norte de Israel, e foi criada para unir as lésbicas árabes, israelenses e palestinas e ainda romper o tabu em torno da homossexualidade para convertê-lo em luta política. Tudo começou através de um fórum na internet que elas criaram no final de 2002, para que as árabes israelenses e também as palestinas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia pudessem trocar experiências. O sucesso foi tanto que um ano depois elas criaram a Aswat que, hoje em dia, recebe ajuda de ONGs americanas e européias e promove a sensibilização e informação a respeito da diversidade sexual, sobretudo, da lesbiandade. As mulheres do grupo encontram-se uma vez por mês para discutir assuntos de interesse mútuo, planejar eventos e publicações para as lésbicas e confortar àquelas que mais necessitam de ajuda. Outra novidade é que a organização lançará em breve um fórum virtual dedicado a gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros de origem árabe do mundo inteiro. Mas é claro que nem tudo são flores. Em entrevista concedida à AFP, agência mundial de notícias, as fundadoras da Aswat contaram a respeito do desafio que é manter esta associação em uma sociedade patriarcal como a árabe, onde a família é o centro da vida social. "Ninguém pode declarar publicamente sua homossexualidade sem contar com apoio. É preciso ser forte, inclusive economicamente, porque é necessário buscar alternativas ao apoio familiar quando este se perde", explica Rauda. Rauda e Samira sabem que ainda têm um árduo caminho a percorrer e que estão arriscando a própria vida, principalmente em territórios palestinos. Ambas assumem que já sofreram ameaças, entretanto, elas não se deixam abater e avisam que não temem os tradicionalistas islâmicos. "Tentamos fazer nosso trabalho sem lhes dar mais importância que merecem. A sociedade é hipócrita, mas nós repudiamos que este tema fique em segredo. Queremos que seja tratado de forma política e social", afirma Samira. Além disso, ela explica que muitos homens e mulheres homossexuais árabes são casados e têm uma vida dupla porque acredita-se que ser homossexual é proibido pela religião. Desde a fundação, a dupla fundadora da Aswat não pára de receber e-mails e cartas de apoio e solidariedade de todas as partes do mundo. Contudo, elas estão otimistas e acreditam que gradativamente a mulher lésbica conquistará seu espaço. "Não nos iludimos. Sabemos, por exemplo, que não haverá Parada do Orgulho Gay em Gaza, mas pouco a pouco vamos mudar as coisas", finaliza Rauda. Quem quiser conhecer um pouco mais a respeito do trabalho da Aswat, para acompanhar a vida destas mulheres, e conhecer o site da associação que está disponível em inglês ou árabe veja aqui

(font: MixBrasil)

Para quem, como eu, não entende nada de inglês e muito menos de árabe, aí vai uma tradução livre feita pela Patrícia do Movimento de Lésbicas de Campinas (Mo.le.ca.)

“Acredito por vezes que o que é muito importante para mim deve ser falado, tornado verbal e compartilhado, mesmo ao risco de ser ferido ou mal entendido.” (Audre Lorde)

Nós somos mulheres numa sociedade patriarcal onde as vozes das mulheres não são ouvidas. A mulher não possui nada, incluindo si mesma. Tudo é controlado pelas figuras masculinas de suas vidas – seu pai, seu irmão e até mesmo seu tio. Ela está sob constante supervisão de sua sociedade, em sua vizinhança, na rua, na escola, na universidade. Onde quer que ela esteja, haverá alguém a olhando e a julgando. De acordo com a percepção tradicional de nossa sociedade, a mulher representa a honra e a reputação de uma família, um fardo bastante pesado que nós temos que suportar e carregar até o dia de nossa morte. “A reputação de uma mulher é como um espelho, uma vez quebrada, nunca poderá ser reparada”, é uma fala muito comum para todas as mulheres em nossa comunidade, e simboliza o tipo de pressão que a sociedade coloca na mulher. Muitas mulheres são forçadas para fora das escolas quando atingem a maturidade física, sob o medo de que elas podem ser facilmente influenciadas e trazer vergonha para suas famílias. A sociedade vive sob o medo constante da mulher trazer vergonha para si, para suas famílias e para a comunidade. As mulheres, supostamente, não são capazes de tomarem conta de si, elas devem sempre depender de um homem para protegê-las e provir suas necessidades, por serem vulneráveis e fracas: é assim que são tradicionalmente vistas. De acordo com a sociedade, o papel da mulher está limitado a ser mãe, ou filha/irmã, que se tornará mãe quando tiver idade suficiente.

Somos Palestinas vivendo sob a ocupação Israelense. Estivemos sob ocupação desde 1948. Ser Palestina nesse país significa ter controle limitado sobre nossas vidas; tudo está nas mãos dos ocupantes. Nossa liberdade de expressão é limitada por *regras de recolher (*“curfews, closures, checkpoints and the Wall”, cita regras que só as permitem podem ficar nas ruas até determinado horário). Estamos focando todas as nossas energias em sermos capazes de dar *suporte (*no sentido financeiro) a nossas famílias e, na maioria dos casos, em sermos capazes de sobreviver. A situação política se deteriora com o passar do tempo, e os direitos das mulheres são colocados em último plano na agenda social e política. Toda vez que uma mulher tenta falar, ela se depara com reações ferozes de quem está a sua volta.

Somos mulheres gays numa sociedade que não tem misericórdia em relação à diversidade sexual. “Sair do armário” (coming out) não é sequer uma opção porque as consequências podem ser severas. As opções a nós abertas são muito poucas; ou nós vivemos uma vida dupla para sobrevivermos, e ainda mantemos bom relacionamento com nossas famílias, ou nós fugimos e seremos, provavelmente, forçadas a uma vida dura. Nós decidimos que chegou a hora de definirmos as normas de nossa sociedade, e fazermos todos escutarem nossas vozes por mudança.

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