frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

domingo, 8 de junho de 2008

livro: amor entre meninas

autora: shirley souza

A adolescência é uma idade muito complicada. Nesse período surge uma série de dúvidas sobre sexo. Será que sou homossexual porque achei aquela menina bonita? Essa pergunta é freqüentemente feita por garotas que estão em dúvida sobre sua sexualidade. "Amor entre Meninas" toca no assunto com uma abordagem leve e dinâmica, tirando dúvidas e desmistificando certos tabus que levam ao preconceito. A autora Shirley Souza trata do amor entre iguais, destacando desde a possibilidade de experimentação, de auto-conhecimento e de identificação como parte do desenvolvimento pessoal até conflitos associados aos desejos, sentimentos e emoções decorrentes da relação entre meninas. ‘Amor entre Meninas’ chega para complementar uma linha editorial voltada para a educação sexual de adolescentes, com perguntas e respostas, depoimentos de meninas mais velhas e curiosidades.

trecho do livro que fala sobre o momento de "sair do armário".

Se ter certeza sobre a preferência sexual pode não ser fácil, imagine assumir uma opção não-convencional! Se você conhece alguém que está passando por isso, saiba que ela precisará de muita força. Agora, se você está vivendo essa situação, respire fundo. O maior desafio é assumir para si mesma o que a faz feliz.

Sair do armário
Sair do armário quer dizer assumir sua preferência homossexual principalmente para si própria; depois, para os outros. Muita garota sabe que gosta de menina, sem, contudo, nunca chegar a ficar com uma. Para alguém assim usa-se a expressão sair do armário, entende? Enquanto a pessoa não assume sua sexualidade, diz-se que é enrustida. Mas cuidado! Há uma diferença entre sair do armário e ser arrancada dele. Uma coisa é colaborar para alguém conseguir expressar livremente sua orientação sexual, outra é expor essa pessoa, denunciá-la. Achar que é obrigatório revelar publicamente a vida privada de alguém, ainda mais por imposição do grupo, é algo totalmente sem noção!

Aconteceu com ela...
A amiga, a colega, a conhecida, seja quem for a menina, a gente já ouviu alguma história assim, de alguém que assumiu sua homossexualidade. E aí? Como isso rolou?

'Comigo foi normal. Minhas amigas sempre ficaram com outras meninas. Aí quando ela falou que tava mesmo namorando uma garota, ninguém estranhou. Normal mesmo' - D., 16 anos

'A galera arrepiou. Dar uns beijos numa balada é uma coisa, mas ela apareceu com aliança de compromisso! Foi demais, entende? E o que os pais dela vão pensar disso?' - S., 13 anos


Lá na escola tem duas garotas que não se desgrudam: beijam na boca na frente de todo mundo e a galera zoa. Não seria melhor elas namorarem escondido?
Opção difícil essa. Imagine como seria se você gostasse muito de um garoto e não pudesse beijá-lo em público, não pudesse ir abraçadinha com ele ao cinema nem apresentá-lo aos amigos e à sua família como seu namorado. Não seria fácil. Para a maioria das meninas que gosta de meninas essa é a realidade. Muitas têm tanta vergonha de assumir o que sentem que passam a vida fingindo ser o que não são. Outras até se arriscam a fazer o que o coração manda, mas fazem bem escondidinho para ninguém descobrir. Difícil ser feliz assim. Poucas assumem para o mundo que gostam de garotas, ainda mais na adolescência! Se essas duas meninas assumiram seu namoro = perante o colégio, de duas uma: ou elas querem chamar a atenção de todo mundo, ou se gostam de verdade e estão querendo que todos entendam que não há nada de mau nisso. Será que o problema está no fato de elas se beijarem na frente da galera, ou na cabeça da turma, que considera isso uma aberração? Vale refletir!

Tem um jeito certo de lidar com uma amiga homossexual?
O fato de uma amiga sua gostar de meninas não deve mudar sua maneira de se relacionar com ela. Não existe um jeito especial de tratamento. Isso seria, em si, um modo de discriminação. Cada pessoa reagirá de um jeito diferente ao saber que alguém próximo é homossexual. Isso porque esperamos que todo mundo seja como a gente, principalmente nossos amigos. É normal acreditar que uma amiga tenha os mesmos gostos que nós temos por música, roupas, livros, filmes e meninos. Por isso, descobrir sua homossexualidade talvez balance as estruturas. Nesse caso, pare e pense que o mundo é formado por diferenças. Por mais parecidos que os seres humanos sejam em muitos aspectos, também são indivíduos únicos em outros. Com certeza, o que a fez ser amiga dessa garota não foi o fato de ela gostar de meninos. Portanto, saber que ela gosta de meninas não deve mudar todas as outras afinidades que existem entre vocês duas.

Eu nem imaginava uma coisa dessas, mas depois de ver essas meninas da escola, uma amiga me contou que também é lésbica. O que faço agora?
Se essa amiga contou algo assim é porque confia em você. Primeiro, a vida sexual dela não deve mudar essa amizade; ela pode estar buscando uma confidente, um apoio, alguém para compartilhar suas experiências e dúvidas. Fazemos isso normalmente: amadurecemos vivendo e trocando experiências. Tudo bem que seja difícil guardar algo assim só para si mesma, mas não cabe a você contar a outras pessoas nem decidir se ela deve ou não dizer a mais alguém. Seja amiga, apenas a mesma que sempre foi. O melhor a fazer é não tratá-la de um jeito diferente agora que sabe que ela gosta de meninas.

Só que ela disse que está namorando uma menina há um tempão e que decidiu levar a garota numa festa da turma do colégio. Eu não acho isso legal. Como faço pra falar o que penso?
Antes de falar qualquer coisa para ela, analise as razões que a fazem considerar essa atitude ruim. Será que está querendo protegê-la ou está se protegendo? Avalie-se antes de tomar uma atitude. Com certeza, sua amiga precisa de uma força, de compreensão e de carinho. Se você teme uma possível discriminação por parte do grupo, converse com ela, sem tentar ser a dona da verdade. Tente entender seus motivos em querer assumir publicamente esse relacionamento e veja se ela está preparada para uma possível rejeição da galera. Mas note bem: se forem amigas de verdade, esteja pronta para se colocar ao lado dela.

Eu acho que não vou ter coragem de ficar ao lado dela se a galera toda começar a zoar ou até afastá-la do grupo.
Então a discriminação está na sua cabeça também. Colocando-se ao lado do grupo você demonstra que concorda com o que essa turma pensa, ou que tem medo de também sofrer algum tipo de preconceito. Seus motivos são reais para não apoiar sua amiga? Considera errado ela gostar de uma garota? Antes de mais nada, ela está sendo fiel a si própria, assumindo o que sente e vivendo uma paixão. Isso não deveria ser admirado? Talvez ela se sinta sufocada por manter essa relação escondida dos amigos. Talvez precise do apoio dos colegas para viver mais intensa e livremente esse amor. Vocês têm o direito de considerar isso errado ou anormal? O respeito às diferenças deve existir em qualquer realidade e deve ser levado à prática, não ficar só na teoria.

Os meninos da turma também andam falando que uma outra amiga minha é lésbica. Devo contar pra ela?
Por que esse tipo de comentário está acontecendo no grupo? Há um ditado popular que expõe bem essa situação: o macaco senta em cima do rabo e fica olhando o dos outros. Em vez de se preocuparem com a vida sexual de uma garota, esses seus amigos deveriam se preocupar com as próprias opções, com as próprias decisões que precisam tomar em suas vidas. Então, mais uma vez, cabe a você decidir se entra na onda dos meninos ou corta essa onda de uma vez. Se discorda desses comentários, antes de contar para sua amiga, é bem melhor chegar na galera e tentar mostrar o quanto de preconceito há nisso tudo. Também vale agitar um movimento de conscientização coletiva, como criar um blog na internet para discutir diversidade sexual ou um jornal na escola, quem sabe até propor um trabalho sobre o tema com um professor com quem tenha maior afinidade. Será difícil, com certeza. No entanto, levar a história de fofocas e difamação adiante só machucará os sentimentos dessa amiga. Afinal, a vida sexual dela diz respeito somente a ela, certo?

Homossexual, lésbica, fanchona, caminhoneira, bolacha, entendida ou sapatão...
Quando uma garota gosta de meninas, é comum logo ser rotulada, e o rótulo costuma ser agressivo. Chamar uma garota de sapatão, de fanchona, caminhoneira, ou algo parecido, agride e desrespeita o jeito de ela ser. Muitas vezes usamos as palavras sem pensar na carga que têm. Dependendo da palavra que usa, aquilo passa a ser um xingamento. Sendo assim, fique ligada e se livre dos preconceitos na hora de falar, de agir e de pensar.
- Homossexual: é o modo mais formal de definir alguém que gosta de pessoas do mesmo sexo.
- Lésbica: palavra certinha para dizer que uma garota gosta de garotas.
- Bolacha: é um jeito brincalhão de dizer que a menina é lésbica.
- Sapatão, sapata, sapa: são termos mais agressivos, que também significam lésbica.
- Caminhoneira: lésbica muito masculinizada, e a ex¬pres¬são por vezes é usada para ofender uma garota. Usam-se também fanchona ou fancha.
- Entendida: gíria leve e moderna para dizer que uma menina gosta de meninas.

GLS
No universo homossexual a sigla GLS é superconhecida. Quer dizer "Gays, Lésbicas e Simpatizantes". Os "Simpatizantes" são as pessoas que não são gays nem lésbicas, mas respeitam essas orientações sexuais. Cada vez mais o 'S' cresce no mundo inteiro. As pessoas, principalmente os jovens, começam a entender que diversidade sexual é uma realidade que merece respeito, embora ainda falte muito para existir igualdade de direitos e de tratamento. Só para ter uma idéia: o Brasil é recordista em assassinatos de homossexuais. Um deles é assassinado a cada dois dias.

A gente fala em preconceito, mas às vezes é difícil lidar com minhas amigas que já ficaram com meninas e acham que quem não fica é boba ou algo assim
Dá para entender que ser homossexual seja tão natural quanto ser hetero, mas forçar a barra em nenhum sentido é bom. Elas podem estar fazendo pressão porque encaram a situação como uma moda: para fazer parte do grupo você precisa agir como elas. Também existe o preconceito às avessas, em que o grupo discriminado passa a discriminar quem não faz parte dele. Se você sabe que o importante é o respeito às diferenças, vai entender que a atitude delas está sendo uma roubada. Mostre o seu ponto de vista, porque ficar quieta ou fazer o que elas querem não resolve nada.

'Ficar com uma menina só pra seguir a moda é ridículo! Você tem de corresponder à sua essência e ponto.' - J., 25 anos

'Ficar com uma menina só pra parecer descolada é um comportamento infantil! Não acordamos um dia e resolvemos que vamos beijar garotas. Ser lésbica tem de ser algo que vem de dentro, é natural, faz parte da pessoa.' - M., 24 anos


sobre a autora: Shirley Souza é formada em Comunicação pela ECA-USP. Atua como redatora e artista gráfica em diversas editoras e agências de publicidade. Também trabalha como educadora em projetos especiais para crianças e adolescentes junto a colégios particulares e ONGs. Já escreveu e ilustrou obras infantis e juvenis.


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