frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

sábado, 22 de novembro de 2008

livro: invenções de si em histórias de amor

sub-titulo: lota & bishop
autora: nadia nogueira

Lota Macedo SoaresElizabeth Bishop

Lota Macedo Soares morava em Nova York em 1942 com sua companheira Mary Morse. Fazia cursos no Museu de Arte Contemporânea e dali extraía idéias para serem aplicadas no Brasil. Nesse período conheceu Elizabeth Bishop, uma poetisa muito tímida, que sonhava conhecer o sul da América. Em 1951 Bishop veio ao Rio, Lota levou-a para conhecer a casa que estava sendo construída em Samambaia, Petrópolis. O encantamento inicial pela natureza se intensificou com a declaração do amor de Lota e os cuidados dos brasileiros com sua saúde, após uma crise alérgica provocada pela mordida em um indigesto caju. O romance entre Lota e Bishop também é contado no livro ‘Flores raras e banalíssimas’ da autora Carmen L. Oliveira postado aqui, sobre Lota e Bishop, quem foram e como viveram aqui.

nadia nogueira

A autora Nádia Nogueira é mestre e doutora em História pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e pesquisa as mulheres que amam mulheres no Brasil. ‘Invenções de si em histórias de amor: Lota & Bishop’, tese de doutorado, além de falar destas duas talentosas mulheres, seus silêncios, estratégias de vida e sonhos, abrange em sua pesquisa as outras lésbicas. Nádia foi instigada a escrever sobre este universo esquecido e proscrito, pelo professor James Green, prefaciador do livro e pesquisador que também se dedica a investigar os gays masculinos no Brasil.

invenções de si em histórias de amor

‘Invenções de si em histórias de amor’ além de relatar como Lota e Bishop, de 1951 e 1967, construíram uma relação de amor marcada por uma constante ‘reinvenção de si’, através do cuidado consigo mesmas e com a outra, resgata o silêncio histórico a que estiveram submetidas as relações homoeróticas femininas. Lota e Bishop não foram às únicas a criarem tais laços afetivos e sexuais, outras mulheres construíram espaços alternativos de encontros no Rio de Janeiro nos anos 50 e 60. Nesta época, as práticas amorosas entre mulheres são nocivas, perversas, doentias, e as lesbianas precisam de tratamento para que possam ter uma vida decente. Este discurso médico-legal permeou a sociedade brasileira pelo menos até a metade do século 20 e justificou a exclusão dessas mulheres da sociedade, sendo que muitas acabaram asiladas em manicômios. Pessoas que viveram sob o estigma da perversão, de que o homo-erotismo era uma doença associada à criminalidade, em que se mata e morre por amor.

Entre 2003 e 2004, Nádia pesquisou as mulheres que amam mulheres no Brasil, entrevistou as que se dispuseram falar sobre suas práticas afetivas e sexuais com outras mulheres no Rio de Janeiro dos anos 50 e 60. Tarefa nada fácil convencer senhoras de mais de 60 anos a comentar o passado. Com acesso a um mundo muito particular, a pesquisadora pôde conhecer os códigos e mapear os pontos de encontro de mulheres na época.

Na década de 50 esses espaços eram quase inexistentes, pois a lésbica tinha horror de ser identificada como ‘mulher-homem’, sob pena de internação em manicômio. De qualquer forma, a bossa nova já abria locais de convivência para um grupo eclético, de prostitutas a cantoras da noite. Os primeiros bares, restaurantes e boates freqüentados abertamente por lésbicas surgem na década de 60, anos de transgressão. Havia o ‘El Jerez’, o ‘Bistrô’, a boate do ‘Hotel Vogue’, o ‘Alcazar’ espaço de encontros bastante reservado e ainda hoje existente na Avenida Atlântica, o ‘Alfredão’, já mais explícito, hoje inexistente e o ‘Bar da Fernanda’, na Tijuca, onde se encontravam as conhecidas.

A respeito dos códigos, Nadia Nogueira observou que as lésbicas tinham apenas a norma heterossexual como referência. Muitas não sabiam como namorar outra mulher. Imaginavam que deviam se comportar como um homem. Daí que as de classe social mais baixa se masculinizavam, usando o próprio corpo para conquistar o espaço público, não tinham outros meios de romper com o discurso dominante. As da elite, por outro lado, mantinham-se reservadas, preferindo organizar festas particulares. ‘Ser não significa parecer’, era a expressão que usavam. Somente dois lugares se encontram entre o público e o privado: o ‘Bar da Fernanda’, na Tijuca, e o ‘Clube das 12’, em Jacarepaguá, onde em certas ocasiões um terno era mais elegante. Ainda que de terno, elas não se achavam masculinas, mas ‘exóticas’, livrando-se do estigma.

Por causa desta pequena parte da tese de doutorado, o mapeamento dos espaços de sociabilidade lesbiana, a historiadora, pesquisadora e escritora participou da ‘13º Berkshire Conference of Women’s Historians’ na Califórnia, em 2005. Na ocasião realizou entrevistas em Berkeley (EUA), grande reduto de lesbianas e aí encontrou uma carioca, que vive na cidade desde 1966, e garantiu ter sido enorme a quantidade de mulheres de famílias ricas que deixaram o Brasil para assumirem a condição de lesbianas. Puderam, então, adotar um novo estilo de vida e muitas tiveram filhos, o que só hoje acontece com maior freqüência. Atualmente, no Brasil, Nadia Nogueira viu assegurada uma fonte farta de entrevistas, no Clube Olímpico, em Copacabana, acontece um encontro mensal com cerca de 300 lesbianas de várias gerações.

(fonte: Jornal da UNICAMP)

2 comentários:

Anônimo disse...

Posso falar??? Rsrsrs
Quando eu me formei havia um certo preconceito quanto as questões de gênero na linha metodológica de pesquisa!! Inclusive essa História de gênero era muito mais ligada ao estudo das mulheres em geral do que especificamente as lésbicas.
Ainda bem que estamos em constante transformação e neste caso para melhor muito melhor!!
Hoje acredito que essa forma de fazer pesquisa no mundo acadêmico me parece muito mais revolucionário, instigante e tentador.
Aliás vou correndo ver se consigo o livro!!!
Valeu a dica !

Estou me viciando neste blog!!
Tô perdida!! Rsrsrs

Bjs

Anônimo disse...

Escrevi sobre elas, se quiser dar uma olhadinha - http://luzdeluma.blogspot.com/2008/04/bem-me-quer-mal-me-quer.html - boa semana! Beijus