frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

quinta-feira, 12 de julho de 2007

livro: devassos no paraíso

Sub-título: A homossexualidade no brasil, da colônia à atualidade
Autor: João Silvério Trevisan
Editora: Record

Obra fundamental e minucioso relato, baseado em dez anos de pesquisas e muita reflexão acerca da homossexualidade no Brasil, tão antiga quanto o próprio país. O escritor João Silvério Trevisan afirma que ela já era praticada entre os índios, antes mesmo dos portugueses aqui chegarem e darem sua própria contribuição à causa. Por tais liberdades sexuais, os silvícolas foram chamados de "devassos no paraíso", expressão que dá título ao livro. Publicado originalmente em 1986 (a pedido da editora londrina Gay Men‘s Press) e esgotado há quase uma década, ‘Devassos no paraíso’ na nova versão, dobrou de tamanho, para abranger as grandes mudanças ocorridas no Brasil nesse período, fruto, principalmente da disseminação da Aids, ainda incipiente quando o estudo original foi escrito. O autor investiga a atuação no Brasil, a partir de 1591, do Santo Ofício, preocupada em punir os sodomitas, aborda a formação dos conceitos de pecado e desvio de conduta em relação à homossexualidade e, partindo disso, analisa os esforços de políticos, autoridades policiais, juizes, higienistas e psiquiatras para entender e tentar conter a pederastia nos séculos XIX e XX. E chega até o final do século XX, discutindo direitos civis, inserção social de minorias, Aids e intolerância. Trevisan passa pela biologia, se vale de instrumentos da antropologia e da psicanálise, disseca a religião, analisa o homoerotismo nas artes e na mídia e revela o cotidiano homossexual, através de diversos depoimentos. “Devassos no Paraíso” é um livro que alerta dos perigos que o não encarar-se pode gerar a nós e aos que nos cercam, e que a auto-aceitação é a cura de muitas de nossas moléstias. Trevisan traça a trajetória de intelectuais pertencente à elite – como Elizabeth Bishop, Lota Macedo Soares, Mário de Andrade, entre outros – que tiveram seus trabalhos cultuados enquanto que, sobretudo no caso de Mário de Andrade é abafado pela família como se o fato fizesse dele um artista menor. “Devassos no Paraíso” não quer provar que ser gay é melhor que ser heterossexual ou vice-versa, e sim mostrar que a sexualidade é apenas uma das facetas que formam nosso caráter. Admirável livro capaz de informar, fazer rir, chorar e, acima de tudo, refletir.


Sobre o autor

João Silvério Trevisan é paulista de Ribeirão Bonito, 56 anos, militante e assumidamente homossexual, não é tão-somente um defensor dos direitos dos gays, é escritor, dramaturgo, tradutor, jornalista, roteirista e diretor de cinema. Com 56 anos, já recebeu inúmeros prêmios em teatro, cinema e literatura, entre os quais o Jabuti (três vezes) e o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em duas ocasiões. Tem obras traduzidas para o inglês, alemão e espanhol.

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