frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

homenagem a uma drag queen: sylvia lee rivera

O Inspetor Seymour Pine comandava a equipe de 8 detetives lotados na NYCPD - a delegacia de costumes da cidade de Nova York - no plantão da madrugada de 27 de junho de 1969, que parecia ser o de uma sexta-feira como todas as outras. No Greenwich Village, membros da comunidade gay vindos do funeral de Judy Garland, reuniram-se no Stonewall - o seu bar preferido - quando, mais uma vez, foram afrontados pela truculência policial. Após a visita dos tiras, como sempre rápida e rasteira, dois funcionários, três drag-queens e uma lésbica acabaram presos. As travestis e transformistas resistiram à prisão e começaram o confronto que duraria três dias. Logo homens e mulheres que freqüentavam o local se juntaram a elas marcando o ponto de partida simbólico do Orgulho Gay (Gay Pride). De acordo com as histórias e lendas contadas a partir dos enfrentamentos de Stonewall, Sylvia Rivera (1951-2002) drag queen de origem portorriquenha, foi quem iniciou o movimento gay de protesto contra a violência policial tornando-se um dos mais visíveis e atacados membros da comunidade GLBTT. Depoimentos de sobreviventes que estavam naquela noite no bar, contam que Sylvia tomou, literalmente, para si a carga de enfrentar a polícia, lançando os coquetéis molotov que afastaram os tiras por alguns instantes.

Sylvia Lee Rivera, nascida em 2 de julho de 1951 como Rey Rivera Mendoza, saiu de casa aos onze anos e, durante os anos 60, sobreviveu nas ruas de Nova York. Ali conheceu, em primeira mão, os perigos que rondavam os transgêneros e as injustiças sociais cometidas contra eles, contra as drag queens e as prostitutas lésbicas. Nos anos que se seguiram a Stonewall, Sylvia Rivera tornou-se um ícone do movimento gay e participou ativamente do lobby no congresso americano para os direitos civis dos gays e dos transexuais. Procurou chamar atenção, repetidas vezes, para o que chamava transfobia e que, segundo ela, existia amplamente nas comunidades gays e lésbicas. Em 1970, Rivera associou-se à Aliança de Ativistas Gays (GAA) e ali também lutou para aprovar, junto à municipalidade novaiorquina, leis que protegessem os transgêneros. A própria GAA tratou de excluí-los de seu programa de ação, embora os políticos - todos aparentemente heterossexuais - estivessem dispostos a votar a favor. Sylvia ficou chocada e desiludida com o movimento. Ainda em 1970, Sylvia e Marsha P. Johnson criaram o grupo “Street Transvestite Action Revolutionaries” (S.T.A.R). Esses “Transgêneros de Rua Revolucionários”, se organizaram para lutar pelos direitos dos travestis e transexuais jovens, cuidando para que tivessem acesso aos serviços de saúde e lares onde pudessem morar. Problemas com os moradores do East Village fecharam o estabelecimento dois anos depois.

Este trabalho pioneiro de Sylvia Rivera serviu como inspiração para futuros abrigos de transexuais de rua. Mudou-se para Tarrytown, New York onde trabalhou nos hotéis Marriot como chefe de compras. Posteriormente, voltou para a cidade de New York. Sem dinheiro para ao menos alugar uma vaga, passou a fazer parte da comunidade dos moradores de rua do pier da Christopher Street. Em 1997, mudou-se para a Transy House Collective, no Brooklyn. – uma casa no padrão que ela própria havia criado, nos tempos do S.T.A.R. Retomando a direção desta entidade, Sylvia Rivera e seu grupo pressionaram o comitê de direitos humanos no sentido de incluir transgêneros na legislação não discriminatória do Estado de New York. Sem sucesso, infelizmente. Em 2002, doente e com graves dificuldades de locomoção, Silvia continuou seu trabalho de ativista e lobista em nome dos transgêneros e travestis. Conseguiu, inclusive, se reconciliar com o Inspetor Seymour Pine. Poucas horas antes de morrer de câncer no fígado, em 19 de fevereiro de 2002, esteve reunida com líderes da comunidade GLBTT, sempre pressionando a opinião pública e a classe política para que mudem a forma de enxergar e aceitar a diversidade sexual. Membro da MCC – Metropolitan Church Community de Nova York - onde exercia um cargo de coordenação, Sylvia, no leito de morte, fez o Pastor Pat Bumgardner prometer que a igreja criaria um lugar onde jovens da comunidade GLBTT pudessem passar a noite, quando todas as outras possibilidades estivessem descartadas. Assim nasceu o “Sylvia’s Place” (o lugar de Sylvia), um dormitório de emergência onde os jovens entre 16 e 23 anos encontram cama, cobertores, sanitários e banheiros, e paroquianos voluntários que servem um bom café da manhã, oferecem seus ouvidos compreensivos e uma palavra amiga de encorajamento.

(por Thereza Pires, escritora, jornalista e ativista)

nota: O Projeto de Lei Sylvia Rivera, de 2004, trabalha para garantir liberdade de expressão para todas as pessoas, independente de raça e identidade sexual.

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