translate to Em 1950, George Jorgensen saiu de cena e voou para a Europa. Quem reapareceu três anos depois, chegada de Copenhaguen, foi Christine, uma vistosa loura envolvida em casaco de peles. Em meio ao tumulto, cerca de 300 jornalistas a aguardavam no aeroporto, disputando a chance de escrever com exclusividade sua história. Quando informou a seus pais, do leito do hospital, que eles agora tinham uma filha, a resposta veio imediatamente por telegrama: “Amamos você mais do que nunca”. Os Jorgensen, de nível cultural modesto, deram ao mundo na jurássica década de 50 um exemplo de apoio, respeito e aceitação que deveria ser imitado pelas famílias de transexuais do século 21. Ela desejava que sua trajetória de homem para mulher fosse um fato privado. Mas, a indiscrição de um amigo da família trouxe a notoriedade que o assédio da mídia confere. Transformou-se numa digna embaixatriz da emergente comunidade transexual. Quinhentos milhões de palavras (correspondente a 15 livros de tamanho médio) foram usadas pela imprensa mundial, para registrar os resultados da primeira cirurgia de mudança de sexo comprovadamente bem sucedida. (por Thereza Pires, jornalista)
Em 30 de maio de 1926, nascia no Bronx, Nova York, George William Jorgensen Jr. O tímido filho de imigrantes dinamarqueses teve uma infância normal e feliz ao lado da irmã, mas, desde muito cedo, começou a experimentar os tormentos do transexualismo: a estranha sensação de ter cromossomos, hormônios e genitais de um sexo e a convicção íntima de pertencer ao gênero oposto. Seu corpo já enviava as mensagens da confusão sexual: era muito magro, frágil e não tinha pelos no peito, braços e pernas. Embora contando com a compreensão e apoio irrestritos da família, à medida em que ia crescendo e preferindo brincar com bonecas e usar roupas femininas passou a se considerar uma fraude: homem por fora e mulher por dentro, chegando, várias vezes, a pensar seriamente em suicídio. Convocado pelo Exército Americano serviu durante a 2ª Guerra Mundial, permanecendo, depois do Armistício, 14 meses num cargo burocrático, o que lhe possibilitou o contato com uma vasta biblioteca. Durante anos se empenhou numa pesquisa independente sobre cirurgia para mudança de sexo, fez cursos de fotografia e leu tudo que estava ao alcance sobre hormônios sexuais e desequilíbrios glandulares. Através de um amigo médico, tomou conhecimento de que cirurgias, como a que procurava, já vinham sendo realizadas na Dinamarca pela equipe do Dr. Christian Hamburger, integrada pelo psiquiatra Georg Stürup e pelos cirurgiões Paul Fogh-Andersen e Erling Dahl Iversen.
Abriram-se as portas para uma fulgurante carreira no show business e Christine Jorgensen passou o resto de sua vida sob luzes de palcos. Estreou no Orpheum Theater, em Los Angeles, narrando um documentário que dirigiu e filmou na Dinamarca. Trabalhou em casas noturnas e cassinos. Tornou-se cantora e apresentadora de talk shows. Reportagens sensacionalistas revelaram que poderia ter relações sexuais normais, mas jamais conceberia filhos. Sua voz era grave, bem modulada e sexy. Christine Jorgensen gostava de ser mulher e usava como prefixo musical a composição de Oscar Hammerstein II “I Enjoy Being a Girl”, que se tornou sua marca registrada. Sua atuação mais notável foi ter se transformado de objeto de ridículo e curiosidade pública em uma respeitada militante da tolerância sexual, referência emblemática dos transexuais. Com a fortuna acumulada durante os anos de carreira artística comprou uma mansão em Laguna Niguel, ao Sul de Los Angeles, onde recebia amigos e onde a vida era sempre uma festa. Morreu de câncer em 1989, vinte e sete dias antes de completar 63 anos. Foi cremada e suas cinzas atiradas no Oceano Pacífico.
sábado, 20 de outubro de 2007
homenagem a uma transexual: christine jorgensen
A norte-americana Christine Jorgensen é considerada a primeira transexual do mundo, tendo sido operada em 1952. Seu nome de batismo era George e sua profissão, militar e herói de guerra.
categoria: homossexuais célebres
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