frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

sábado, 20 de outubro de 2007

homenagem a uma transexual: christine jorgensen

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A norte-americana Christine Jorgensen é considerada a primeira transexual do mundo, tendo sido operada em 1952. Seu nome de batismo era George e sua profissão, militar e herói de guerra.

Em 30 de maio de 1926, nascia no Bronx, Nova York, George William Jorgensen Jr. O tímido filho de imigrantes dinamarqueses teve uma infância normal e feliz ao lado da irmã, mas, desde muito cedo, começou a experimentar os tormentos do transexualismo: a estranha sensação de ter cromossomos, hormônios e genitais de um sexo e a convicção íntima de pertencer ao gênero oposto. Seu corpo já enviava as mensagens da confusão sexual: era muito magro, frágil e não tinha pelos no peito, braços e pernas. Embora contando com a compreensão e apoio irrestritos da família, à medida em que ia crescendo e preferindo brincar com bonecas e usar roupas femininas passou a se considerar uma fraude: homem por fora e mulher por dentro, chegando, várias vezes, a pensar seriamente em suicídio. Convocado pelo Exército Americano serviu durante a 2ª Guerra Mundial, permanecendo, depois do Armistício, 14 meses num cargo burocrático, o que lhe possibilitou o contato com uma vasta biblioteca. Durante anos se empenhou numa pesquisa independente sobre cirurgia para mudança de sexo, fez cursos de fotografia e leu tudo que estava ao alcance sobre hormônios sexuais e desequilíbrios glandulares. Através de um amigo médico, tomou conhecimento de que cirurgias, como a que procurava, já vinham sendo realizadas na Dinamarca pela equipe do Dr. Christian Hamburger, integrada pelo psiquiatra Georg Stürup e pelos cirurgiões Paul Fogh-Andersen e Erling Dahl Iversen.

Em 1950, George Jorgensen saiu de cena e voou para a Europa. Quem reapareceu três anos depois, chegada de Copenhaguen, foi Christine, uma vistosa loura envolvida em casaco de peles. Em meio ao tumulto, cerca de 300 jornalistas a aguardavam no aeroporto, disputando a chance de escrever com exclusividade sua história. Quando informou a seus pais, do leito do hospital, que eles agora tinham uma filha, a resposta veio imediatamente por telegrama: “Amamos você mais do que nunca”. Os Jorgensen, de nível cultural modesto, deram ao mundo na jurássica década de 50 um exemplo de apoio, respeito e aceitação que deveria ser imitado pelas famílias de transexuais do século 21. Ela desejava que sua trajetória de homem para mulher fosse um fato privado. Mas, a indiscrição de um amigo da família trouxe a notoriedade que o assédio da mídia confere. Transformou-se numa digna embaixatriz da emergente comunidade transexual. Quinhentos milhões de palavras (correspondente a 15 livros de tamanho médio) foram usadas pela imprensa mundial, para registrar os resultados da primeira cirurgia de mudança de sexo comprovadamente bem sucedida.

Abriram-se as portas para uma fulgurante carreira no show business e Christine Jorgensen passou o resto de sua vida sob luzes de palcos. Estreou no Orpheum Theater, em Los Angeles, narrando um documentário que dirigiu e filmou na Dinamarca. Trabalhou em casas noturnas e cassinos. Tornou-se cantora e apresentadora de talk shows. Reportagens sensacionalistas revelaram que poderia ter relações sexuais normais, mas jamais conceberia filhos. Sua voz era grave, bem modulada e sexy. Christine Jorgensen gostava de ser mulher e usava como prefixo musical a composição de Oscar Hammerstein II “I Enjoy Being a Girl”, que se tornou sua marca registrada. Sua atuação mais notável foi ter se transformado de objeto de ridículo e curiosidade pública em uma respeitada militante da tolerância sexual, referência emblemática dos transexuais. Com a fortuna acumulada durante os anos de carreira artística comprou uma mansão em Laguna Niguel, ao Sul de Los Angeles, onde recebia amigos e onde a vida era sempre uma festa. Morreu de câncer em 1989, vinte e sete dias antes de completar 63 anos. Foi cremada e suas cinzas atiradas no Oceano Pacífico.

(por Thereza Pires, jornalista)

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