frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

livro: flores raras e banalíssimas

Sub-Titulo: a história de Lota de M. Soares e Elizabeth Bishop
Autora: Carmen L. Oliveira
Editora: Rocco

Veemente e dramático, a premiada biografia 'Flores raras e banalíssimas' reconta a trajetória do amor entre a poeta americana Elizabeth Bishop e a esteta brasileira Lota de Macedo Soares, que assumiram sua homossexualidade com surpreendente naturalidade durante os turbulentos anos 50 e 60. Em dezembro de 1951, Elizabeth Bishop desembarcou no Rio para uma escala de dois dias de uma longa viagem em que buscava um sentido para sua vida. Encontrou Lota de Macedo Soares e ficou 16 anos. Os primeiros tempos de vida em comum, junto à mata de Samambaia, foram de grande felicidade. Esta pode ser medida pelo fato de que moraram durante anos em uma casa em construção, compensando a precariedade com uma intensa devoção. Bishop escreveu alguns de seus mais marcantes poemas em Samambaia, conseguindo se afastar do alcoolismo.

Em 1961, Lota embarcou no ambicioso projeto de idealizar e administrar a construção de um parque à beira-mar, no aterro do Flamengo. O casal teve que se mudar para o Rio. Bishop, antes apaziguada na casa, na neblina, viu-se só, no burburinho da cidade grande. Seu melhor depoimento sobre a cruel transição entre a exuberância natural de Samambaia e o terror urbano está em seus poemas, nos quais a bromélia é substituída por uma cadela sarnenta e, em vez das imagens sensuais da vida natural, surgem prostitutas dançando o chácháchá nas calçadas de Copacabana. Bishop recaiu no alcoolismo. A obsessão de Lota pela conclusão do parque e a crescente instabilidade emocional de Bishop contribuíram para que ambas enfrentassem uma forte crise em sua vida amorosa, agravada pelo tumulto da época, com a instalação da ditadura e o fim político de Lacerda. Talvez por não haver, na história recente, um outro exemplo de casal feminino tão formidável, a dupla biografia de Carmen L. Oliveira vem cativando leitores tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, recebendo dois importantes prêmios literários. Livro para quem gosta de uma boa história e de História. Livro que se lê de um fôlego só. Mais sobre Elizabeth e Lota aqui

Um comentário:

Luiz Lailo disse...

Entrei aqui no seu blog e me lembrei de George Sand, você deve conhecer. Ela gostava muitissimo da fruta homem mas se fixava em personalidades algo femininas como Chopin e Alfredo de Musset. Além do nome gostava de trajes masculinos. Sand explica de uma forma fascinante a forma como resolveu vestir-se à homem, quando começou a sua carreira literária em Paris. " Desejava ardentemente perder o meu provincianismo e informar-me directamente sobre as ideias e as artes do meu tempo… mas estava ao par das dificuldades de uma pobre mulher em gozar esses luxos… Assim, mandei fazer um redingote-guérite (casaco comprido masculino usado em 1830) em pesada fazenda cinzenta bem como calças e casaco a condizer. Com um chapéu também cinzento e um enorme lenço de lã (cravate) tornei-me na imagem de um estudante. Não consigo expressar o prazer que me davam as minhas botas. De boa vontade dormiria com elas… Com aquelas solas revestidas a ferro, sentia-me firme a andar pelas ruas e corri Paris de uma ponta a outra. Dava-me a sensação de que poderia dar a volta ao mundo. Com aquelas roupas não temia absolutamente nada. Saía para a rua estivesse o tempo que estivesse, voltava para casa a qualquer hora da noite, sentava-me em qualquer lugar obscuro do teatro. Ninguém me prestava atenção e ninguém suspeitava do meu disfarce."

Conheci George Sand ao ler "Rapsódia Húngara, a vida de Liszt". Foi em 1958. Eu tinha 18 anos.

A presente anotação li em George Sand faz 200 anos.