frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

ela e ela: radclyffe hall e una troubridge

viveram 28 anos juntas

Radclyffe Hall (esquerda) nasceu Marguerite, mas para os íntimos era apenas John. Vestia-se elegantemente, tinha modos aristocratas e comportava-se como uma boa inglesa de linhagem notável. Dizia pertencer ao ramo que descendia de Shakespeare. Além de nome de homem, Hall gostava de vestir-se como um e adorava posar com calça de montaria e cigarro no canto da boca. Ela era acima de tudo uma amante à moda antiga, que acreditava em fidelidade e no casamento. Mas depois de alguns anos casada com a cantora de ópera aposentada Mabel Batten, começou a se envolver com uma mulher chamada Una Troubridge, prima de Mabel. O romance secreto foi ficando cada vez mais quente e Hall, por uma questão de dever, resolveu contar a verdade para sua esposa: havia se apaixonado por Una. Não se sabe se Mabel engasgou, pois estavam jantando, ou se pelo susto levantou-se de repente, teve um ataque e caiu em coma, vítima de um derrame. Mabel morreu alguns dias depois. Hall afundou-se em sentimentos de culpa e não conseguia mais manter relações íntimas e sexuais com Una. Então, foram procurar a espírita Gladys Leonard para contatar a falecida Mabel e tentar explicar para a pobre alma os motivos daquela traição. Para surpresa de ambas, durante a sessão a falecida se manifestou, perdoou as pombinhas e ainda disse a Hall que Una era a melhor esposa que ela poderia desejar para si - já que ela, Mabel estava morta mesmo.

Una Troubridge realmente transformou-se na melhor esposa que Hall poderia desejar: amante, secretária, tradutora, agente, empresária, dona-de-casa e relações públicas numa só pessoa. Com a ajuda de Una, Radclyffe Hall tornou-se, durante a década de 20, uma das escritoras que mais vendiam livros na Inglaterra. Depois, vieram os prêmios e o prestígio. Encorajada pelo seu sucesso e por sua posição privilegiada Hall decidiu então escrever um romance "em defesa das mais mal interpretadas almas do mundo: os invertidos!". Nascia assim "O Poço da Solidão", (sinopse aqui) certamente o romance lésbico mais importante do século. Tudo começou a acontecer muito rapidamente: num espaço de quatro meses o livro foi sucesso de vendas, criou polêmica e virou objeto de um processo legal que agitou a Inglaterra. Trinta anos depois de Oscar Wilde, a homossexualidade virava notícia novamente. Se por um lado a intelectualidade inglesa mobilizava-se em torno da questão da liberdade de expressão, por outro lado nunca a Inglaterra ouviu tanto a palavra "invertido". Em novembro de 1928 "O Poço da Solidão" foi finalmente proibido, acusado de obscenidade. Mas de obsceno o livro não tinha nada. Nem uma só cena de sexo. Era um livro comportado, que pretendia mais esclarecer que escandalizar. Hall queria provar uma tese recente e inovadora, de que a homossexualidade era inata. Portanto, não poderia ser considerada crime ou doença e deveria ser encarada com mais compaixão pela sociedade, cujo dever era acolhê-los e não rechaçá-los. Então, escreveu um romance onde a heroína lésbica acaba jogando a sua amada nos braços de um homem, para poupá-la do escárnio público: um sacrifício por amor bem ao estilo de seus outros romances açucarados que haviam feito tanto sucesso anteriormente. Apesar da proibição, o livro foi contrabandeado como droga afrodisíaca para a Inglaterra e Estados Unidos - onde também sofreu restrições - e virou cult nos países onde circulava livremente. Vendeu nas duas décadas seguintes uma média de 100.000 exemplares ao ano no mundo inteiro e é um fenômeno editorial que continua a ser reeditado e vende bem até hoje - um verdadeiro clássico. Depois do escândalo do julgamento, a carreira de Radclyffe Hall sofreu um baque. Apesar de não ter sido julgada - pois lesbianismo não era considerado crime - ela nunca mais emplacou um sucesso. Hall acreditava que a sociedade inglesa fosse capaz de tolerar e aceitar a homossexualidade. Errou. Era cedo demais. No entanto, conseguiu fazer com que todos falassem do amor que até então não ousava dizer seu nome. Marguerite Radclyffe Hall - John para os íntimos - morreu em 1943, aos 63 anos, de câncer. Ainda estava casada com Una. Mas não viveu para ver seu livro liberado na Inglaterra em 1949.

(fonte MixBrasil)


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