frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

nas alcovas de hollywood

Hollywood nunca viu com bons olhos as notícias sobre a homossexualidade de seus funcionários, pois temia ‘comprometer’ a imagem de seus galãs e heroínas. O temor não impediu os chefes dos grandes estúdios de empregar e dar valor a profissionais competentes na hora do serviço e de comportamento 'pouco convencional' quando estavam de folga.

A usina de filmes praticava, com limites, os ideais que vendia: o do sonho americano, de oportunidade para todos. Os poderosos não se importavam se fulano saía com sicrano, desde que, em sua atividade, ajudasse as companhias a manter ou aumentar a produtividade. E para não perdê-lo havia uma regra: fingir-se heterossexual em público.

Hollywood foi formada por homens sem verniz intelectual, que adoravam assediar candidatas ao estrelato sem muito pudor. Era previsível que, no contato com os colegas gays, fizessem lá suas piadinhas. Havia uma notória divisão de atividades. A parte técnica – câmera, eletricidade, som – era dos heterossexuais. Setores como figurino e maquiagem, porém, eram dominados por homossexuais. Também brilhavam à frente das câmeras. Astros e estrelas como Cary Grant, Greta Garbo, Gary Cooper, Marlene Dietrich e Burt Lancaster não davam na vista, mas mantiveram, com maior ou menor discrição, mais ou menos freqüência, seus casos secretos com pessoas do mesmo sexo.

O primeiro astro do cinema mudo, Jack Kerrigan, fez fama como caubói de gestos delicados. As mulheres o amavam por isso e por manter-se solteiro para cuidar da mãe. Mas não se casar gerava desconfiança. Isso levava os estúdios a pedir a suas celebridades para casar ou circular com alguém do sexo oposto quando saíam notas na imprensa recheadas de veneno. Ser chamado de solteirão convicto nos jornais era um código explícito.


Nenhuma década foi mais tolerante com os homossexuais em Hollywood como os anos 20. Galãs andróginos, como Ramón Novarro e Rodolfo Valentino (heterossexual, casado com uma bissexual), eram chiques. Multiplicavam-se as festas freqüentadas por gays. Casais do mesmo sexo moravam juntos sem cerimônia.




As mulheres também tiravam proveito. A diretora Dorothy Arzener, famosa pelos cabelos curtos, penteados para trás com brilhantina, era respeitada e poderosa. Só levou puxão de orelha ao valorizar certos atributos das atrizes em seus filmes. Outra todo-poderosa do período, a atriz russa Alla Nazimova, quando atuava com atrizes bonitas, dava um jeito de acariciá-las, nem sempre com sutileza. Em uma cena de "Camille", com Valentino, beijou uma jovem na boca. Quatro vezes. E sem simulação.

Transgressões assim abriram caminho para Greta Garbo e Marlene Dietrich, que a imprensa definia como 'duas partes do mesmo time'. Marlene era casada. Desde que morava na Alemanha, porém, saía com 'meninas', como ela dizia. A foto dela em uma festa com Claudette Colbert esparramada entre suas pernas rendeu muitas linhas.

Toda essa flexibilidade sofreu nocautes nos anos 30 e 50, períodos nos quais a onda conservadora fez os homossexuais levantar a guarda. A mudança de clima levou dois atores a romper o relacionamento e mudar a imagem. Cary Grant terminou um sólido casamento com Randolph Scott, um dos reis dos faroestes, e tentou se matar logo depois de casar com a atriz Virginia Cherill.



Gary Cooper foi proibido pelo chefão da MGM, Louis B. Mayer, de ser visto ao lado de um amigo inseparável, Andy Lawler, com quem habitava sob o mesmo teto. Grant e Cooper tornaram-se símbolos sexuais, em papel heterossexual, é claro. A imprensa tanto alimentava ruídos sobre esses casos como vendia o silêncio em troca de uns trocados. A corrosiva colunista Hedda Hopper tirava o sossego do ator Montgomery Clift: tinha em mãos uma queixa-crime por atentado ao pudor.

Rock Hudson (quando o galã morreu de Aids, em 1985, muitas fãs se espantaram, mas a maioria dos colegas sabia que ele era homossexual) e James Dean também foram poupados graças à interferência e aos cheques de seus estúdios para as publicações sensacionalistas.




A perseguição não existe hoje, mas o tema continua delicado. Se atores como Rupert Everett e sir Ian McKellen saem do armário, vão para a vitrine e continuam tocando a carreira; há casos espinhosos como o de Billy Zane, que se declarou gay pouco antes da estréia de ‘Fantasma’ e levou a culpa pelo fracasso do filme. Acusações que têm o cheiro de pura chantagem financeira proliferam. Tom Cruise processou dois homens, um deles ator pornô, que dizem ter feito sexo com ele. Nem tudo mudou em Hollywood.


Um comentário:

Luiz Lailo disse...

Rock Hudson é figurinha carimbada. O mundo artístico é estranho. Há artistas dos quais se sabe tudo sobre a vida sexual, mesmo porque eles não escondem; é o caso de Frank Sinatra. A vida de Sammy Davis Jr. também foi um livro aberto. Casou-se com a sueca May Britt, o que causou um certo rebuliço aqui no Brasil; nos Estados Unidos foi um escândalo visto a proibição de casamento interracial, na ocasião, em 31 estados.
Mesmo quando o artista é heterosexual procura-se esconder sua condição de casado porque, dizem as gravadoras ou sei lá quem, isso pode interferir em sua vida artística.
O caso é que se lê a biografia de vários artistas e não se encontra referência a esposas, maridos, filhos, etc. Por exemplo, não sei até hoje qual era a orientação sexual do Billy Eckstine, que eu ouvia desde meus 14 anos. O mesmo quanto a Al Jarreau. Tenho mais de dez discos dele. Quando o vejo no YouTube tenho a impressão de que ele dobra um pouco a munheca. Cantando ele é um monstro. Mas como disse Shakespeare: "Ser ou não ser, eis a questão".
Outro artista estigmatizado é o bailarino. Aqui em Nilópolis há uma meia dúzia de Academias de Dança. Ou havia. Valéria Brito, Nair Babo e mais a Cristiane, todas de Nilópolis, se revezavam com outras no Domingão do Faustão. Os alunos dessas Academias eram todos... meninas.