frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

fime: far from heaven

título no Brasil: ‘longe do paraíso’
gênero: drama
origem: EUA
ano de lançamento: 2002
direção: todd haynes
elenco: julianne moore, dennis quaid, dennis haysbert, patricia clarkson
premiação: ganhou cinco prêmios no ‘Independent Spirit Awards’: melhor filme, melhor diretor, melhor atriz (julianne moore), melhor ator coadjuvante (dennis quaid) e melhor fotografia e no ‘Festival de Veneza’ o de melhor atriz (julianne moore).

Discrição e delicadeza são o que regem esse bonito filme de Todd Haynes. Aclamadíssimo pela crítica e um tanto preterido pela Academia, Haynes faz aqui um trabalho maduro. Dennis Quaid, que foi ignorado da lista de indicações de atores coadjuvantes da Academia, está muito bem vestido no personagem, um homem quarentão saindo do armário em plena década de 50, Patricia Clarkson, como a amiga surpresamente preconceituosa, é uma presença de peso, Dennis Haysbert, o jardineiro negro, discreto e cheio de emoção e, claro, Julianne Moore está certamente tocante. Uma interpretação genuína de uma mulher contida, dolorida e infeliz.

Ambientado na década de 50, o filme traz de maneira sutil e bela, todo um vigoroso e requintado universo norte-americano. Inicialmente, somos apresentados a uma típica família americana bem sucedida: os Whitakers. Cathy Whitaker (Julianne Moore) é uma típica dona de casa da época, submissa e prestativa, está sempre ajudando os mais necessitados, preocupada com o marido, cuidando das crianças, dando festas. Já Frank Whitaker (Dennis Quaid) é um bem sucedido empresário, ocupado demais para se preocupar com os filhos e esposa entre outras coisas. Cathy e Frank tinham uma imagem forte e eram tidos como símbolos da união e da família na sociedade em que estavam inseridos; até que, numa bela noite, Cathy resolve levar o jantar de seu marido na empresa do mesmo, uma vez que Frank disse estar super atarefado. Lá chegando ela pega seu marido aos beijos e abraços com outro homem.

A vida perfeita de uma dona de casa fica em ruínas após ela descobrir a homossexualidade de seu marido e se aproximar de um homem negro, o que causa o preconceito dos vizinhos. E não se trata apenas do preconceito racial, mas também do preconceito sexual, ao tratar a homossexualidade como uma doença a qual cabia tratamento, embora com chances relativamente baixas de "cura". Frank, marido da querida Cathy, admirada e respeitada por toda a sociedade como a esposa e amiga ideal, além de cidadã exemplar, luta contra seus desejos como se quisesse se livrar de um câncer e torna-se cada vez mais amargo, distante e até agressivo por isso.

Não é exatamente um filme apenas sobre a descoberta da homossexualidade. É, principalmente, um painel da sociedade americana, com toda a hipocrisia, tradicionalismo, preconceito e infelicidade. A trilha sonora de Elmer Bernstein é adequada e coadjuvante em todo o filme. Uma sensação ressentida e amarga, de impossibilidade de realização, contorna a trama deste elegante e belo filme.

E a pergunta inicial do filme ecoa dentro de nós por cada um dos muitos minutos do filme: o que aprisiona os desejos do coração? O preconceito. Rótulos estabelecidos e validados, embora muitas vezes vazios. Criamos nossas próprias armadilhas. Sobrevivemos entre as "minas" que nós próprios cravamos. Mais do que nunca, temos a certeza de que os anos 50 não estão tão distantes assim. E, mais do que nunca, sabemos que distantes estamos nós, e talvez sempre estaremos longe do paraíso. O filme vale muito a pena. Um oásis em meio a tantas porcarias descartáveis e esquecíveis.

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