frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

terça-feira, 5 de agosto de 2008

a arte do beijo na arte

tanto nas telas dos cinemas como nas das TVs, o beijo adquiriu dimensões monumentais, funcionando como um mágico substituto da realidade, concebendo a mais refinada forma de sublimação erótica pelo intenso contato entre os lábios dos protagonistas, uma suprema conjunção de carne e espírito.


‘The Kiss’ (1896), filme com menos de um minuto de duração, é um pequeno ornamento arqueológico na história do erotismo cinematográfico: o corpulento John C. Rice une, pudicamente, seus lábios aos da matronal May Irwin, consubstanciando um breve beijo amadorístico, polido, autoconsciente e casual. Foi este o primeiro beijo registrado no celulóide. As audiências dos cinemas experimentaram então, pela primeira vez, a vastidão da excitação voyeurística que é parte integral da arte cinematográfica. A sugestão erótica impressa no toque de lábios passou a funcionar como um instrumento de sublimação sensual, uma metáfora do sexo em sua totalidade pelo encontro epidérmico que antecedia, invariavelmente, a conjunção sexual plena.


Foi a escandinava Greta Garbo quem rompeu a pantomima coreográfica dos primeiros beijos cinematográficos. Na década de 1920, ela deitou seus lábios sobre os lábios de John Gilbert em ‘Flesh and the Devil’ (‘A Carne e o Diabo’ - 1926) de Clarence Brown, materializando o primeiro beijo de boca aberta e na horizontal. A ambigüidade de gênero também foi uma marca dos beijos de Garbo: em ‘Queen Christina’ (‘Rainha Cristina’ - 1933) de Rouben Mamoulian e ‘The Painted Veil’ (‘O Véu Pintado’ - 1934) de Richard Boleslawski, os beijos da diva sueca foram também dedicados às atrizes Elizabeth Young e Cecilia Parker respectivamente.


O beijo homoerótico já era então conhecido pelas platéias. Charles “Buddy” Rogers e Richard Allen protagonizaram o primeiro beijo homossexual das telas no drama de guerra ‘Wings’ (‘Asas’ – 1927) de William A. Wellman, embora as conotações eróticas do gesto permaneceram ocultas sob o manto da amizade. Foi somente com ‘Sunday, Bloody Sunday’ (‘Domingo Maldito’ – 1971) de John Schlesinger, que o homoerotismo encontrou livre expressão no intenso beijo entre Murray Head e Peter Finch. Os beijos trocados pelo britânico Daniel Day-Lewis e pelo paquistanês Gordon Warnecke em ‘My Beautiful Laundrette’ (‘Minha Adorável Lavanderia’ -1985) de Stephen Frears, por sua vez, adicionam ao homoerotismo o elemento da inter-racialidade.


Os beijos lésbicos igualmente floresceram cedo nas telas. A atriz germânica Marlene Dietrich, envergando fraque e cartola masculinos, foi quem, pela primeira vez, beijou ostensivamente uma mulher diante das câmeras em ‘Morocco’ (‘Marrocos’ – 1930) de Josef von Sternber. Sua ousadia seria muitas vezes repetida com grande êxito por inúmeras atrizes como Catherine Deneuve e Susan Sarandon em ‘The Hunger’ (‘Fome de Viver’ – 1983) de Tony Scott e Hilary Swank e Chloë Sevigny em ‘Boys Don’t Cry’ (‘Meninos Não Choram’ – 1999), entre tantas. O beijo marcado pela intensidade do desejo reprimido aconteceu em ‘Casablanca’ (1942) de Michael Curtiz, entre Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.

(texto de hugo nogueira)

para celebrar o beijo lésbico em toda a sua gloriosa variedade

'come 'ere baby, you know you drive me up the wall…'

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