Muito teve de ser feito para que pessoas, públicas ou não, não temessem assumir abertamente sua homossexualidade. Na Alemanha, o cineasta Rosa von Praunheim, principal ativista do movimento de libertação homossexual alemão é um dos principais responsáveis pela atual liberdade. Rosa von Praunheim, cujo verdadeiro nome é Holger Bernhard Bruno Mischwitzky, nasceu em 25 de novembro de 1942, em Riga, Letônia, durante a ocupação alemã. Seu nome artístico advém do ‘triângulo rosa’ dos homossexuais nos campos de concentração nazistas, e de Praunheim, bairro de Frankfurt onde cresceu. Após abandonar o curso de pintura da Escola Superior das Artes, em Berlim, Von Praunheim iniciou sua carreira de cineasta, no final dos anos de 1960. Em ‘Schwein gehabt – Joe Luga’ (Joe Luga teve sorte), Von Praunheim conta a história do cantor Joe Luga, que fazia shows travestido de mulher para os soldados alemães da frente russa. Somente após a guerra, nos anos de 1950 e 1960, sua homossexualidade o levou às prisões da antiga Alemanha Ocidental. Mas é no longo documentário ‘Männer, Helden, Schwule Nazis’ (Homens, heróis, gays nazistas), disponível desde o ano passado em DVD, que o diretor aborda a paradoxal relação entre a homossexualidade e as idéias do radicalismo de direita, cuja estética está cada vez mais presente na cena gay atual.
Em 40 anos de atividades, Von Praunheim dirigiu, entre documentários e filmes de ficção, cerca de 70 produções. Ele mesmo se considera ‘um dos cineastas gays mais produtivos do planeta’. Como ativista, o diretor provocou escândalo ao lançar seu semi-documentário ‘Nicht der Homosexuelle ist pervers, sondern die Situation in der er lebt’ (Não é o homossexual que é perverso, mas a situação em que ele vive).
Rosa von Praunheim sempre foi um provocador. ‘Saiam dos banheiros, vão para as ruas’ era a mensagem do filme que acusava os gays de passividade política numa sociedade homofóbica, de se contentar com a triste vida de bares proibidos e sexo às escondidas em banheiros públicos. O filme foi lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 1971. Durante sua transmissão pela TV pública ARD, em 1973, a televisão da Baviera saiu do ar. Von Praunheim não atacava apenas a sociedade alemã, que no ano anterior anulara o parágrafo do Código Civil de 1872 que proibia relações sexuais entre o mesmo sexo. O principal alvo do diretor eram os próprios homossexuais.
Depois do filme de Von Praunheim que afirmava que ‘gays não querem ser gays, mas querem ter uma vida pequeno-burguesa e viver como cidadãos medianos, e que sua passividade política é agradecimento ao fato de não serem mortos’, cerca de 50 grupos ativistas gays foram criados no país.
Durante os anos de 1980 e 1990, Von Praunheim dedicou-se ao combate à discriminação dos portadores de aids. Em 1991, no auge da crise da doença, o cineasta provocou o furor de vários homossexuais por ter declarado, em programa da rede privada de televisão RTL, que dois dos principais apresentadores da televisão alemã, Alfred Biolek e Hape Kerkeling, eram gays e tinham a obrigação de se engajar na conscientização sobre a doença. O argumento de Von Praunheim para o outing de personalidades gays foi: ‘Ser gay e lésbica não será uma questão de cunho privado enquanto formos expulsos, devido à nossa homossexualidade, de nossos empregos e moradias’.
Von Praunheim se dedicou desde cedo à difusão do sexo seguro, chamando até mesmo seus opositores de ‘assassinos’ e angariando vários inimigos na cena homossexual, cujo estilo de vida combatia – um paradoxo, já que o próprio Von Praunheim se considera ‘promíscuo’, apesar de viver com seu companheiro Mike Shepard já há 30 anos.
Oscilando entre o kitsch e o político, o trabalho cinematográfico de Von Praunheim trata de gays, divas, mulheres fortes, homossexuais corajosos, transexuais, estrelas pornôs e temas como radicalismo de direita e luta contra a aids. Seus documentários são seus pontos fortes. Seus filmes de baixo orçamento convencem e suas provocações recebem os mais diversos elogios. ‘Certo, útil e necessário’, afirma, por exemplo, o diário ‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’.
O provocador Von Praunheim não lutou somente pela liberdade sexual entre gays e lésbicas, mas por seu engajamento político e por sua solidariedade como cidadãos. ‘Lutamos por algo mais que 700 bares de sexo’, afirma um americano no filme ‘Armee der Liebenden oder Aufstand der Perversen’ (Exército dos Amantes ou a Revolta dos Perversos) (1979), sobre os movimentos de libertação nos EUA. O amor livre se impôs, a solidariedade não, reclama o diretor. ‘Ich bin meine eigene Frau’ (Eu sou minha própria mulher) (1992), é sobre a vida do travesti da antiga Alemanha Oriental Charlotte von Mahlsdorf. (sobre ela postei aqui)
Somente em 2000 sua mãe confessou, aos 94 anos, que o diretor era adotado. Ela viveu, com o filho, os seus dez últimos anos de vida, até morrer em 2003. Após longas pesquisas, Von Praunheim descobriu que nasceu na Prisão Central de Riga e que sua mãe biológica faleceu num hospital psiquiátrico em 1946. (por: carlos albuquerque)
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
homenagem a um gay: rosa von praunheim
categoria: homossexuais célebres
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5 comentários:
Nossa,adorei a história dele.
É tão bom ver e saber de pessoas que não vieram ao mundo a passeio...
Beijos e tudo de bom!
Obrigada pela força, não pretendo parar de escrever, é preciso.
Ao meu ver és uma militante real, porém dentro de outra, da sua realidade. Faz o que pode e o que fazes é uma tarefa muito importante, afinal o mundo virtual é um novo espaço de integração.
... Falando de armário uma coisa me preocupa: p'ra onde vão as pessoas q sairem dos armários? para os guetos (ditos lugares gls), para as praças p'ra serem apedrejados? p'ra ONDE? ... Penso que a militância seria a melhor direção, pois integra, instrui, fortalece o discurso a cerca da cidadania... é um escudo!
Querida, continue com seu blog, adoro-o. Sempre estou visitando. E, que ele seja uma arma, um escudo.
Saudações anti-homofóbicas.
PS.: Ah, senti-me abraçada... abraços apertados!
L.Gris.
Mara, passando aqui para te parabenizar pelo novo layout do Fazendo Estrelas, ficou muito bonito, mas vc é fera nessas coisas mesmo! Parabéns...
E desejar a vc um Feliz Natal (bem, sei que vc é atéia, mas vale a intenção!)
E um 2009 cheio de realizações pessoais e muita saúde e paz. São meus votos a vc, a quem aprendi a admirar e tê-la como uma amiga, virtual, mas amiga!
bjos
Renato
Feliz Natal para você e para o melhor blog que conheço. Abraços
Fabíola, tudo de bom para você também, cuide-se.
Gris, não pare não! Continue escrevendo e militando. Infelizmente, as poucas organizações que conheço transformaram-se em apenas clubes de luluzinhas. Militância que é bom...
Renato, obrigada pelos elogios, você é um grande amigo. Valeu a intenção sim! De desejar-me um feliz Natal, apesar de eu ser atéia. Jesus Cristo é um homem da História, tanto que ele a dividiu em antes e depois dele. É inegável a importância das suas mensagens, apesar de sua vida como homem ter sido envolta em tantos mistérios e o primeiro relato, mais abrangente, sobre a sua vida aparecer nos escritos de Marcos somente depois de 40 anos da sua morte. Infelizmente o aniversariante foi ofuscado por um velhinho de barbas brancas, vestido com roupas vermelhas, voando pelo espaço, e transformado no símbolo da festa e atração principal no aniversário que nem sequer é dele. A data, para a maioria, é somente um período de festas e uma exaustiva ida aos shoppings para as compras de presente. Poucos se lembram da atração principal, o aniversariante, e das suas mensagens e ensinamentos.
Victor querido, feliz data para você também e obrigada. Você que é o melhor! Nobre, nas causas que defende, um verdadeiro militante e defensor da mãe Gaia.
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