frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

domingo, 13 de janeiro de 2008

livro: lado B

sub-titulo: histórias de mulheres
autora: lúcia facco
editora: edições GLS

Nesse universo literário, há muita escrita ordinária, desperdício de papel e celulose. Em meio ao lixo, também existem algumas pérolas (no bom sentido). É o caso de "Lado B - Histórias de mulheres", um livro de contos sobre os amores e medos das lésbicas, um tema ainda pouco explorado no mercado editorial. Lado B é uma expressão que não se refere apenas ao lado menos conhecido dos antigos discos de vinil, estranhos para quase todas as pessoas com menos de vinte anos, já foi incorporada ao nosso vocabulário e significa aquilo que é menos divulgado, o lado alternativo de tudo e de todos. É disso que fala o livro: 'do lado alternativo das mulheres, seja por meio da escrita dos amores lésbicos ou dos sentimentos normalmente ocultos, mas geralmente mais autênticos e profundos', define a autora.

"Lado B" traz 12 contos. O texto é enxuto. As descrições buscam o realismo. Mas há um toque de poesia, explorando um clima de nostalgia, melancolia, algo "retrô". Elas amam demais, sofrem demais e sentem demais, em um mundo de repressões, patriarcal, que ainda silencia, condena e pune o prazer e o amor entre mulheres. Além do erotismo, a obra fala de maternidade, de amor, de morte, de solidão, de felicidade. Há lésbicas para todos os gostos, contrariando as expectativas do senso comum, que só admite a existência do estilo 'caminhoneira' para as chamadas 'sapatonas'. O livro surpreende quando narra experiências de mulheres cheias de feminilidade, assumidas ou não, de diferentes perfis (brancas, negras, jovens, velhas, enfim, gente de carne e osso, que pode estar sentada ao seu lado e você nem desconfia de sua homossexualidade - e precisa?).

Ao contrário do que se costumava ver até pouco tempo na literatura, as personagens da autora não são fadadas a uma existência trágica e também não são apenas objeto. A culpa inicial que poderia frustrar a felicidade futura, a solidão, o medo da morte e a nostalgia são elementos que ela destaca. Afinal, trata-se da alma feminina.

leia trecho do livro

’Amparo estava com catorze anos. Havia ficado mocinha e seus seios finalmente tinham aparecido. Suas nádegas se projetavam, agora, estufando a calçola. Amparo passa alguns momentos dos seus dias, quando estava sozinha, admirando as mudanças do seu corpo. Um dia, havia saído do banho, acabara de se enxugar e estava nua, se olhando, envergonhada - sua mãe e as freiras do colégio viviam martelando em sua cabeça que o corpo da mulher era a origem do sofrimento do homem -, quando Luísa entrou no quarto sem bater à porta. Ficaram se olhando. Não disseram nada. Beijaram-se como se isso fosse o esperado, o certo, desde o início dos tempos. Amparo soube então o porquê dos olhares "assassinos" das outras garotas. Da ruiva em especial.

Amparo nunca se sentira tão feliz em sua vida. Estava apaixonada e nas noites brancas coloridas por Luísa trocavam juras de amor: "Se tiver de te deixar, me mato!" Mas sabiam que um dia iam se separar e não teriam coragem de se matar. Dois meses foi o tempo que durou essa paixão. Ou melhor, dois meses durou essa paixão com sexo, pois sem ele já era antiga. Sá veio um dia e levou Amparo. Havia um pretendente rico, que não exigia grande dote além da virtude da moça. Em um jantar, Amparo foi apresentada àquele que queria ser seu marido e tomar dela o que ela só queria dar a Luísa. Mas a quem poderia contar semelhante descabimento?

Clóvis era velho. Tinha idade para ser seu pai. Não era feio nem bonito. Medíocre seria a palavra perfeita para descrever aquele homem. À noite, em sua cama, Amparo repetia baixinho, raivosamente: medíocre, medíocre, medíocre...'



sobre a autora: Lúcia Facco nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de outubro de 1963. É graduada em Letras (Português- Francês), e especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Um comentário:

Anônimo disse...

MARA,SÓ AGORA PODENDO RESPONDER.TUDO BEM?CADA VEZ MAIS INFORMATIVO SEU ESPAÇO PELA CAUSA DOS DIREITOS HUMANOS(ESPECIFICAMENTE DOS DIREITOS DE GAYS E LÉSBICAS).ESTA LUTA É UMA QUESTAO POLITICA MESMO (NÃO UMA LICENÇA APENAS;QUESTAO DE LIBERDADE,COSNCIENCIA DAS LIBERDADES .é UMA LUTA QUE NÃO TEM VOLTA,APESAR DOS ATAQUES MAIS CONSERVADORES.É UM PROCESSO DE LIBERTAÇAO DA CULÇTURA MCHISTA E NÃO SÓ DE BVALORES RELIGIOSOSO.O AMOR ACABA VIRANDO TEMA POLITICO COMO DIZIA HERBET MARCUSE e Erick From.EROS É POLITICO,LIBERTADOR E POR ISSO FAZ TREMER. ESPAÇO ESSENCIAL PARA NOS AJUDAR NA INFORMAÇAO DESSA NOSSA REALIDADE.PARABENS.MARA,PODE SIM PUBLICAR O POEMA,FICO FELIZ PELA IMPORTANCIA DE OCUPAR AQUI ESTE ESPAÇO MUITO IMPORTANTE.POSSO DIVULGAR SEU ESPAÇO LÁ NO MEU BLOG?BOM ANO COM MUITA INTUIÇÃO E LUTA PERCBENDO QUE O BLOG É UMA BOA FERRAMENTA PARA ORGANIZAR MELHOR AS CONSCIENCIAS.ESTAREI AQUI ,TE LENDO E OPINANDO SEMPRE QUE POSSÍVEL.ABRAÇO E FELICADADE. VAN.