frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

literatura gay dos anos 50

Após a segunda guerra mundial, as 'novels', os livros de bolso, estavam em alta nos EUA. As histórias estimuladas por uma época onde a América passava por um período de grandes transformações e progresso, ajudaram a definir a homossexualidade no país do Tio Sam.

some are that waymidtown queen

O que existia de mais provocador eram as capas de tais publicações, que pela primeira vez se permitiam ser mais explícitas, em uma época em que a revolução sexual ainda não havia ocorrido. Com suas cores fabulosas, o visual que lembra história em quadrinhos, os títulos de duplo sentido, deveriam capturar a essência do conteúdo erótico ilícito da história, gritando 'abra-me!' aos leitores assíduos, que olhavam com olhos curiosos e tinham de enfrentar os julgamentos da sociedade para comprar um simples livro. Todos foram ícones para uma nova geração de homossexuais e encaixam-se em algum lugar entre o kitsch e a decoração retrô, as ilustrações já não são mais usadas em livros, e sim em imãs de geladeira e cartões postais.

odd girl outwarped desire

Elas representam um tipo de arte que é uma fatia do passado gay. São aspectos integrais da cultura gay que são inseparáveis da luta pela igualdade e o direito de viver a vida do jeito que escolhemos. Existem registros ali de como os gays viviam, pensavam, desejavam, amavam e sobreviviam. Os leitores gays e lésbicas, sentiram-se agrupados pela primeira vez de maneira explícita. Mesmo que muitos dos personagens gays nestas histórias acabassem com um final trágico, os livros se tornaram uma revelação para muitos leitores gays e lésbicas: eles não estavam sozinhos. Mais do que apenas ilustrações provocadoras, estas obras representam uma janela única onde é possível ver uma parte da história GLBT.

the price of salt

Patricia Highsmith, nascida como Mary Patricia Plangman, resolver usar o sobrenome de seu padrasto quando começou a escrever livros de suspense e mistério como 'Strangers on a Train' (1950), que Alfred Hitchcock filmou em 1951, e o 'Talentoso Ripley', também representado diversas vezes no cinema. Quando 'The Price of Salt' foi publicado em 1952, ela adotou o pseudônimo de Claire Morgan, e foi apenas em 1984 que concordou em utilizar seu nome verdadeiro na capa do livro. 'The Price of Salt' foi considerado o primeiro romance lésbico com final feliz. Loiras atrevidas, morenas com peitos avantajados e mulheres sedutoras. As capas desta e de muitas outras publicações foram criadas para atrair o público heterossexual masculino. Sensacionalistas, as histórias sempre atribuíam a lesbiandade como conseqüência de estupro, abuso na infância ou outros traumas. Os editores também exigiam que os autores escrevessem finais em que as mulheres optassem por uma vida heterossexual, caso contrário, que perdessem o emprego ou cometessem o suicídio.

Apesar das conotações negativas, o ato de tirar um destes livros da prateleira e pagar no caixa era algo que aterrorizava muitas mulheres. Durante os anos 40 e 50, centenas de vidas foram destruídas por acusações de homossexualidade. Guardados com culpa no fundo de armários e embaixo de colchões, estes livros eram compartilhados e emprestados de amiga para amiga na comunidade. Eles também eram queimados e jogados fora por aquelas que tinham medo de serem descobertas.

lavander love rumbleall girl office

'All Girl Office' é uma das mais absurdas das publicações escritas seguindo esta linha editorial. Lena é lésbica e tem uma empresa de consultoria. Ela seduz suas empregadas, mas é estranhamente atraída por Gerry, que revela-se ser um transexual de homem para mulher. Ela então decide transformar Gerry em um homem de novo, para que os dois possam casar e serem felizes. 'Lavander Love Rumble' trata da história de uma mulher dividida entre o amor de uma stripper lésbica e um marinheiro. O texto usa muitas palavras-código usadas para se referir ao mundo underground da homossexualidade.

Ann Bannon, que também usou o nome de Ann Thayler e Ann Weldy é autora deste, que talvez seja o melhor de seus romances. Serviu de guia para muitas lésbicas que foram para Nova York procurando pelos pontos mencionados no livro. Este e outros exemplos de literatura lésbica, tais como 'Women on The Shadows' (1959), 'I am a Woman' (1959) e 'Odd Girl out' (1957) e 'Journey to a Woman' (1960), encontraram seu público apenas no meio dos anos 80, quando a editora Naiad Press relançou os romances como clássicos. Literatura clandestina que 50 anos depois é mais que cult.

(por cristiano tosi)

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