De Wu Tsao, pouco se sabe. E Emily Dickinson viveu reclusa por tanto tempo que são poucos os fatos de sua vida. As duas nasceram em 1830, embora haja dúvidas em relação ao ano exato no caso de Tsao. Dickinson, americana de Massachussets, era filha de um advogado e Wu Tsao, chinesa, filha de um mercador. Dickinson teve acesso à educação formal e ao estudo, coisa não muito comum mesmo entre as meninas bem nascidas da Nova Inglaterra, como ela. Wu Tsao casou-se com um homem que era, como seu pai, um mercador.
Dickinson, com talento e intelecto para sobressair-se em seu próprio tempo e em seu próprio meio, resolveu, aos vinte e poucos, não sair mais de casa. Wu Tsao, educada para ser esposa servil, abandonou o marido e foi escrever poemas para as cortesãs por quem se apaixonava. Dickinson também escrevia, e em profusão, mas publicou apenas sete poemas durante toda sua vida. Seus 1700 poemas restantes foram publicados após sua morte. Wu Tsao foi tremendamente popular na China em sua própria época. Dickinson viveu reclusa a vida toda, e talvez por isso tenha se apaixonado somente por sua cunhada, para quem escrevia cartas fervorosas, que foram depois censuradas por sua sobrinha. Wu Tsao ao final da vida escolheu viver, como Dickinson, em reclusão - mas como sacerdotisa taoísta.
As duas escreveram sobre muita coisa, mas principalmente sobre o amor. Poemas de amor escritos por duas mulheres em pólos opostos do mundo.
Emily Dickinson
love - VII Escondo-me em minha flor Flor que vestes no peito Tu, não sabes, veste-me junto E os anjos o sabem, suspeito Escondo-me em minha flor Flor que murcha em teu vaso Tu, não suspeitas, sentes por mim Uma solidão, quase
love - XXV Noites de Fúria! Noites de Fúria! Estivesse contigo Noites de Fúria seriam A nossa luxúria Inúteis os ventos Para um coração atracado Não mais bússola Nem mapa traçado Remando no Éden Ah, o mar! Pudesse esta noite Em ti me ancorar
Wu Tsao
Para a Cortesã Ch'ing Lin Em seu corpo esguio seus colares de jade e coral soavam como acompanhamento celestial vindo da Verde Cidade-Jade do Céu. Um sorriso seu quando nos vimos, e fiquei muda e não lembrei palavra. Por muito tempo você apanhou flores, e debruçou-se no bambual, as mangas de sua camisa ficando frias em seu vale desértico: eu posso ver você sozinha, uma garota acalentando pensamentos enigmáticos. Você brilha como lamparina perfumada onde as sombras se acumulam. Nós brincamos folguedos de vinho e recitamos poemas, uma para a outra. Então você canta `ao Sul do Rio com Saudades´ com seus versos de partir o coração. Depois pintamos nossas lindas sobrancelhas. Eu quero possuí-la completamente - seu corpo de jade e seu coração prometido. É primavera. Uma vasta neblina cobre os Cinco Lagos. Minha querida, deixe-me comprar um barco vermelho e leva-la comigo para longe.
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