frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

quarta-feira, 25 de junho de 2008

o que é: lesbian chic

Se você não usa roupas de grife, não mantém seu ‘corpitcho’ no peso ideal de uma bailarina, não lê ou ouve a coisa certa, e principalmente, se você for uma lésbica feia, que detesta batom, e prefere andar de tênis e camiseta, você é considerada um lixo. Cabelos moderníssimos das ‘lesbian chic’, visual descolado, mais músculos que cérebro dos ‘fashion boy’ é o que mais se vê na maior parada gay do planeta. Não existe nada de conscientização (na campanha deste ano 'Homofobia mata! Por um Estado laico de fato!', a maioria não sabia o que é 'Estado laico'), nada ligado às conquistas sociais, nem aos nossos direitos. Nos carros alegóricos, apenas grupinhos formados por quem frequenta boates e barzinhos famosos. O desfile começa e termina com o povo ‘normal’ querendo ver um show de 'aberrações', apontando o dedo para a travesti maquiada e para a drag queen equiibrando-se em plataformas gigantescas. Por esta razão e por outras me recuso a participar.

O seriado ‘The L Word’ retrata a rotina de amigas lésbicas ‘super fashions’. Lindas, modernas, vivem a ‘lesbian chic’ que eu nunca vi ao vivo e em cores, por morar em uma cidade provinciana. O mundo ‘fashion’ também, a muito, decretou o ‘lesbian chic’ sempre ‘in’ na moda e na publicidade, mas as meninas que vivenciam o amor entre iguais no dia-a-dia, aquelas da periferia que amam em demasia ou as, como a Bárbara do Chico Buarque, acham que nunca é tarde para amar, sabem como é dura a realidade. Para explicar a mim e a Isa Zeta que me perguntou o que é ‘lesbian chic’, retirei do fundo do meu baú este texto da Suzy Capó. Na maioria das vezes, a visibilidade, pode ser terrívelmente dolorosa, my friend!


Revista 'Época' anuncia o 'novo lesbianismo'
por Suzy Capó

No final de 1993, voltei ao Brasil depois de uma temporada de cinco anos em Nova York. Era o ano do 'lesbian chic', termo cunhado poucos meses antes do meu regresso ao país pela 'New York Magazine"' em edição que trazia k.d.lang (foto) na capa. E eu observava horrorizada a forma como a imprensa brasileira se reapropriava daquilo que já era uma apropriação da mídia de uma postura sexual e política de gays e lésbicas nos EUA nos início do anos 90. Mesmo sem a independência financeira e o poder político da comunidade homossexual norte-americana, de uma hora pra outra nos tornamos chiques, bonitas e femininas. Um sucesso.

Quase dez anos depois, a 'Época' lança a versão tupiniquim do ‘lesbian chic’, o 'novo lesbianismo'. Em reportagem de capa, a revista celebra as meninas que saíram do armário e cada vez mais se expõem em público. 'Não há nada nessas garotas que lembre aquele antigo estereótipo masculinizado. Elas são elegantes, cuidam do corpo, gostam de maquiagem e usam roupas sensuais', informa a revista. Assim como anunciou a 'New York Magazine', elas fazem parte de uma 'nova geração' de mulheres que estaria transformando a imagem das lésbicas.

Ainda que tenha guardado um pouco do (enorme) senso crítico que direcionava minhas ações na época do ‘lesbian chic’, não consigo deixar de me entusiasmar com a visibilidade alcançada com a reportagem na 'Época'. As lésbicas que mostram a cara na revista são garotas de classe média, suficientemente jovens, bonitas, brancas, magras e femininas para apoiar a argumentação do texto da reportagem. Mas elas despontam naturalmente de uma sociedade que está aprendendo a lidar com as diferenças, não são impostas como um modismo importado dos Estados Unidos.

A própria reportagem admite que o 'novo lesbianismo' é um 'fenômeno' das classes mais privilegiadas. 'Mulher de periferia não pode assumir, porque apanha do pai, é discriminada no bairro e pode até perder o emprego', avisa Daniela Duarte, uma das 79 lésbicas entrevistadas pela revista. E a crescente aceitação das lésbicas ganha explicação 'simples e nada romântica' de Jairo Bouer: 'Como são financeiramente livres podem escolher o caminho que quiserem'.

Evidentemente, a independência financeira que transformou o 'sapatão' em consumidora possibilitou a produção dessa reportagem, inimaginável dez anos atrás. Naquela época fazia-se na mídia um rodízio entre quatro ou cinco lésbicas dispostas a falar abertamente sobre sua orientação sexual. Cheguei a ouvir de um amigo que não havia sido chamada por determinada revista a dar um depoimento com minha namorada porque já tínhamos virado 'carne de vaca'.

A reportagem da 'Época' marca um novo momento para as lésbicas no Brasil porque traz o depoimento de várias garotas, classe média, sim, mas com experiências diversas e muitas histórias pra contar. E, tô passada, a palavra bissexual foi usada apenas por uma das meninas, para descrever uma fase pela qual passou antes de se assumir. Nem mesmo as meninas que disseram que 'estavam' lésbicas foram descritas como bissexuais.

Faltou à reportagem, talvez, traçar o caminho percorrido desde a publicação da reportagem da 'New York Magazine' aos dias de hoje. De lá pra cá, o movimento gay no Brasil ganhou novo gás e novas formas de expressão com a realização do Festival Mix Brasil da Diversidade Sexual, a Parada Gay de São Paulo, o surgimento de uma editora e de uma livraria GLS e até mesmo com a explosão da música eletrônica, que ganhou o primeiro impulso em clubes onde a sexualidade fluía muito mais livremente.

De qualquer forma, as garotas que mostraram a cara na revista 'Época' confirmaram em português algo que soava como 'americanismo' dez anos atrás: visibilidade é chique, my friend.


4 comentários:

Anônimo disse...

Não entendi muito bem o que quis dizer c/ esse post ñ mas vou comentar o que entendi..Acho que mulheres independente de serem lésbicas ou ñ devem ser extremamente femininas, pois somos linda e estonteates, seja lá para qual sexo for, sempre somos sexy.

Sara disse...

Sim, sim, siiiimmm...sou eu! =p
Como estás, hein?


beijocas

Anônimo disse...

olá muito legal essa página...adorei!!! eu sou femme lindaaaaaaa...!!bjinhossss

Danh disse...

Parabéns pelas matérias, já li várias, são todas excelentes.
Venho a discordar da Camila, que disse que toda mulher deve ser feminina. Bem, nem sou mulher, mas como ser humano defendo a liberdade e o bem-estar. Tudo bem que voce Camila se sinta bem feminina, mas outras mulheres não e isso é o que deve imperar.

Abraço!