frase do dia: ‘a homofobia é mais uma constatação da perda da ternura no mundo, ser
preconceituoso com os LGBTs é retroceder; além de prejudicar o crescimento humano.’

(letícia spiller - atriz brasileira)

última atualização: 19/08/2009 20:36:42

sábado, 2 de agosto de 2008

livro: história do rei transparente

Rosa Montero é uma conceituada jornalista espanhola do jornal 'El País', com formação em jornalismo e psicologia. Por sua paixão pela Idade Média, escreveu uma fábula medieval, ou um romance histórico, ou melhor, um conto sobre as coisas essenciais da vida. No extremo limite entre o real e o imaginário, nada foge da realidade. Elementos como a consciência da condição de mulher e como elas sentem o mundo estão lá o tempo todo.

‘História do rei transparente’ conta a saga de 25 anos de vida de Leola, a heroína da trama, que também é narradora, que após sair de seu universo ínfimo de serva, viaja pela França disfarçada de homem por trás de uma armadura. A guerra a havia separado de Jacques, com quem iria se casar e ela torna-se o cavaleiro Leo. Inicialmente, disposta a reencontrá-lo a qualquer custo, no final, depois de uma longa jornada, quando o revê, constata que nunca chegou a estar a sua procura, porque, não queria achá-lo. Vive errante, acompanhada de Nyvene, sua ajudante e uma espécie de bruxa, com quem divide medos, lutas, vitórias e derrotas. Após enfrentar muitas batalhas, Leola acaba sangrando entre as pernas, mas não o sangue da guerra, e sim o da menstruação. É o feminino em conflito contra o masculino.

De suas pesquisas sobre a vida na Europa, a escritora exalta no livro as grandes transformações entre os séculos 12 e 13 que deram origem ao Renascimento e ao pensamento humanista reprimidos pelo poder da Igreja Católica, e transformados em frutos apodrecidos, através da força bárbara das Cruzadas e do fogo da Santa Inquisição. Lá também estão: o nascimento das cidades e da burguesia, a valorização da escrita e do papel da mulher na sociedade.

Leola com características mitológicas e que tem o segredo do rei a decifrar, em um aprendizado e transformações constantes, enfrenta obstáculos com inimigos maiores e mais fortes, aprende a ler e a escrever e faz anotações para um livro sobre as palavras e seus significados, enquanto Nyvene encarna a bruxa tão temida pela Inquisição, a sabedoria mágica das mulheres.

Os capítulos são curtos e com muito suspense, prazeroso e leve e com personagens fantásticos como Guy, o gigante ingênuo que atemoriza pelo tamanho, mas se comporta como uma criança, o ferreiro Léon, que padece do ‘grande mal’, como na época se chamava a epilepsia, a cega que melhor vê, o dragão que tudo pode; e também com personagens reais como o papa Gregório IX, que criou a Santa Inquisição em 1231.

‘História do rei transparente’ é temperado pela valorização do papel feminino; direitos, deveres e restrições são constantes na vida das personagens que se vestem de homens para sobreviver, mas o fazem sonhando com o reino de Avalon, onde as mulheres são importantes e vivem felizes. A narrativa é tão intensa que nas aventuras das personagens principais, sentimos os sabores e os aromas bons e os desagradáveis da época que fez de nós o que somos hoje.


Um comentário:

Juliana Dacoregio disse...

Oi Mara!
No meu post sobre a revolta de alguns evangélicos contra o projeto de lei que criminaliza a homofobia recebi o seguinte comentário:
"todos temos direito de expressarmos nossa opinião sobre o homossexualismo,como pratica, pois antes de tudo nao somos nos que dizemos, mas sim a palavra, como em Romanos 1: 18-26 ou outros diversos passagem na Bilbia sobre o homossexualismo.Nao me importo se as pessoas aqui vao dizer que sou facista, fanatico, ou qualquer outra coisa, com ja disseram dos evangelicos.Sera que tenho direito de expressar minha opiniao, mesmo que a maioria nao concorde....Isso e verdadeiramente viver numa sociedade democratica."
Considero de todo lamentável, mas de qualquer forma gostaria de saber o que você teria a dizer para uma pessoa que lhe falasse tal coisa. Aguardo sua opinião.
beijos